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Repetição

Bruno Ministro (FLUP) e Elisabete M. de Sousa (FLUL)

25 Jan. 2023 | FLUL | 18:00

Bruno Ministro

"Poéticas Entre Meios: Repetição e Transformação Material"

Se, como apontou Marjorie Perloff, se exige aos poetas que eles sejam originais ao produzir versos que nunca ouvimos antes, o que dizer de poemas que usam a repetição enquanto mecanismo de produção de sentido? E o que dizer daqueles que, para fazê-lo, não se restringem à linguagem verbal, antes se empenham em questionar e expandir os materiais e os meios de inscrição da escrita?

Nesta apresentação proponho analisar o modo como a repetição é explorada de forma radical na poesia e arte contemporâneas. Serão analisadas obras de poesia concreta e experimental, com uma “passagem” posterior à arte conceptual, novos média e artes pós-digitais. Com isto, a minha apresentação prestará particular atenção às fronteiras expandidas que caracterizam as práticas intermediais da segunda metade do século XX e primeiras décadas do século XXI.

Partindo dos contributos seminais de Walter Benjamin e Vilém Flusser para a teoria dos meios, desenvolverei um método de análise comparada dos média que visa questionar as dicotomias que opõem repetição e variação, reprodução e produção, cópia e original. O meu argumento será o de que o uso da repetição implica sempre uma transformação material que coloca em evidência as próprias características dos meios de inscrição e mediação, assim como torna evidentes os nossos mecanismos de produção de sentido na relação com a tecnologia.

Elisabete M. de Sousa

"Pensar a repetição através de Kierkegaard"

 Pode entender-se toda a sua obra como um todo coerente através da repetição, por três conjuntos de razões:

a) É uma das categorias que é mais criativa em termos de gerar uma nova visão sobre outras categorias. Inicialmente definida em contraste com a recordação (A Repetição), torna-se fundamental para a fé (Discursos Edificantes), como para o amor (Obras de Amor), ou como para o desespero (Doença até à Morte).

 b) É indispensável também para compreender o padrão de organização das obras de Kierkegaard.

 c) Finalmente, é talvez a que melhor condensa o que está em jogo na mensagem mais desafiante da obra de Kierkegaard, a saber, como o singular pode e deve tornar-se consciente da singularidade da sua existência. Este é um processo que se pretende alcançar vivendo um dia após o outro, não como um encadeamento repetitivo de hábitos e rotinas, mas como "repetição genuína", ou seja, como uma recordação (do que se fez, do que leu) que se repete para diante, tal como Kierkegaard o fez nas obras que leu (e comentou em dialéctica de repetição e recordação) de Job a Paulo, de Aristófanes a Holberg, de Platão a Heiberg, de Virgílio a Goethe e Shakespeare.

Hoje falarei sobre um locus de leitura onde se cruzam saberes que me são caros: a literatura, a filosofia, a música, a vida – e tudo isto em torno da repetição e da recordação, em um dos seus opus magnus A Repetição, e concluo com uma passagem por Deleuze e por Harold Bloom.

 1.  Kierkegaard e repetição entre a filosofia, a música, a vida e a escrita.

 2.  Deleuze – breve passagem tomada como vitalidade filosófica da proposta kierkegaardiana.

 3.  Harold Bloom e a angústia da influência enquanto posteridade poético-literária.

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