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Ponto Cego

Golgona Anghel (UNL) e Tiago Mesquita Carvalho (FLUP)

26 Abr. 2023 | FLUL | 18:00

Golgona Anghel

"Como não ver?"

O ponto cego, designado cientificamente como escotoma, corresponde a uma pequena área da retina onde se insere o nervo óptico. Embora o nervo óptico tenha uma função sensitiva de captar informações presentes na retina, o ponto onde se ancora não apresenta receptores de luz. Logo, a parte da imagem projectada pelo cristalino sobre essa pequena zona do disco óptico não é reconhecida pelo sistema nervoso. Contudo, o ponto cego não é percebido conscientemente enquanto tal. O cérebro preenche essa lacuna com informações recolhidas no seu contorno ou com outros dados enviados pelo outro olho. O cérebro completa automaticamente os pontos cegos, as zonas de sombra, não permitindo sequer que os espaços em branco sejam entendidos enquanto tal, reconduzindo continuamente o sem sentido para uma presença plena. A história da metafísica é marcada por essa autoridade da presença, da vista. Na fenomenologia, tudo começa na percepção, ou seja, na vista. Um dos conceitos notáveis de Husserl, a “intuição doadora originária”, daria, por exemplo, novas possibilidades de ver o mundo. Mas como sair da metafísica e do privilégio do olhar e da presença enquanto regentes do conhecer? Como perder de vista a vista, privilegiando assim, não o que aparece, mas o que permanece oculto, porque não visto? Como falar de algo que se furta à compreensão, que, em vez, de surgir, se subtrai? Como não ver? Que contornos adquire a presença na ausência? Que tipo de conhecimento? Partindo de três objectos de estudo, tentaremos ensaiar outras tantas hipóteses precárias cujo horizonte de sentido poderia ser condensado em vários movimentos: “passos proibidos” (Francis Alÿs), “mão negra” (Herberto Helder), “imagem turva/voz off” (Carlos de Oliveira).

Tiago Mesquita Carvalho

 

Nesta apresentação proponho uma passagem pela História Trágico-Marítima de Bernardo Gomes de Brito. Proponho, em particular, uma visitação que se demore na abundância de expressões idiomáticas e de referências à Fortuna ou a Deus para pensarmos com a cultura Seiscentista acomodava a incerteza, o desconhecido e a responsabilidade humana ante o próprio destino. De seguida, tentaremos ver se há ou não semelhanças e analogias com a cultura contemporânea atravessada de ciência e tecnologia.

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